“Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”, recomenda Tolstói aos escritores. O conselho cabe com perfeição neste Winesburg, Ohio, obra máxima de Sherwood Anderson (1876—1941), que mostra a vida numa fictícia cidade do Meio-Oeste através do retrato de seus personagens. Romance multifacetado, ou sequência de contos interligados pelo jovem George Willard, repórter do jornal local, o livro foi e é aclamado como um marco na literatura norte-americana. Do marginalizado Wing Biddlebaum ao filosófico Doutor Parcival, passando pela abandonada Alice Hindman, pelo reverendo em crise Curtis Hartman, até a sofisticada Helen White, a obra de 1919 descortina vidas por vezes ridículas, por vezes trágicas, mas sempre de forma pungente e sensível. Seu estilo é claro e direto, mas abarca uma profundidade de emoções e de sentimentos que — como quer Tolstói — excedem seu limite geográfico e alcançam o universal.