Depois de Nau do desejo, e de A face oculta do amor, Denise Maurano nos oferece Torções - a psicanálise, o barroco e o Brasil. Com esse livro, compõem-se a trilogia - desejo, amor e gozo -, forças que movem o sujeito, que psicanaliticamente abordado, inclui no si mesmo o Outro em suas diferentes faces, com todos os reviramentos que tem direito. Assim, abrem-se questões relativas à ética, à arte e à cultura, com a particularidade de nessa obra ser focalizada a especificidade da conexão da ética da psicanálise com a brasilidade. Foi enfatizado o caráter excêntico, efusivo, desmesurado e, sobretudo, paradoxal de nossa cultura, dita muito propriamente - barroca, para daí depreender-se a especificidade do acolhimento da psicanálise em nosso país. Se olharmos a arte barroca não apenas como estilo de época que serve ao catolicismo, mas como expressão da queda de uma racionalidade que pretendia definir o sujeito, poderemos pensá-la como apresentação artística da tragédia da subjetividade. O que aí se sublinha é uma posição ética de abordagem da vida e da condição humana, que privilegia a emoção ao invés da precisão da razão. O que se focaliza é a inconsistência do sujeito, que nela se encontra sempre remetido a um mais além - de olho em "Outra cena", dividido entre o sagrado e profano, entre o carnal e o espiritual, entre a obscuridade e a luz. A subjetividade, na perspectiva psicanalítica, tal como proposta por Lacan, não é o que identifica ou faz consistir o sujeito, mas o que modula seu estilo de gozo. Somos o que gozamos, não apenas sexualmente, afirmando de forma viril a nós mesmos, mas somos também a ânsia de um gozo que se evade em uma entrega de nós mesmos - gozo fora do sexo, dito feminino, apontando uma certa evasão subjetiva, que tem uma função fundamental na orientação ética da clínica psicanalítica e em sua intervenção na cultura.