Nas alternâncias entre som e sentido propiciadas pela palavra poética, não raro se manifesta a antecâmara da aurora perpétua, desenhada por um movimento apreendido na passagem da desclaridade à luz. Por isso que se abre, como prediz o poeta, cedo ou tarde chegamos na hora certa, razão pela qual, perante a derradeira transição, De nada adiantará/ abrir a porta fechada./ No outro lado não há nada. À descoberta de que, sob o gume da perecedoura e indevassável condição humana, não há passo rumo à eternidade corresponde, em Aurora, um alvor cujo temperamento modula a língua que nos cabe conjugar. Ao concentrar sua mais cristalina dicção no breve termo do que, anterior ao nascer do sol, só se deixa perceber por iluminar a superfície terrena ainda à sombra, Lêdo Ivo declina variados modos do aurorescer próprio à vida, com destaque para aqueles que, justapostos a um púbis bem-amado e a pernas que abrigam um céu estrelado, bem como antepostos à neve branca e leve e ao estandarte da morte [...]