Érico Nogueira é um poeta recessivo; ainda mais recessivo porque jovem. E explica-se: seu uso de rimas e de formas fixas, assim como suas leituras, remetem os leitores imediatamente ao passado da arte poética, de modo proposital e calculado. É o oposto do tipo de poesia que Marjorie Perloff critica negativamente no ensaio ‘Modernism’ at the Millennium, no qual localiza o uso já frouxíssimo do chamado vers libre, diluído desde o início de sua prática nos anos 1870, na França, até se tornar a base de composições nas quais uma voz genérica de lírico ‘sensível’ contempla uma faceta de seu mundo e faz observações sobre ele, compara presente e passado, divulga certa emoção recôndita, ou chega a um novo entendimento da situação. Nogueira vê como seus contemporâneos aqueles poetas clássicos, com quem se mede e a quem emula, como fez na primeira parte de seu livro de estréia, O Livro de Scardanelli (2008), seguindo os passos de Hoelderlin. A poesia de Nogueira apresenta duas dificuldades peculiares: uma, a de produzir poesia de base antiga hoje; outra, a de como leremos essa poesia.