Este livro é fruto de minha insônia, o que não quer dizer que tenha nascido de noites infelizes e improdutivas. O tempo me doutrinou algumas regras e se até às duas da manhã eu ainda não conseguisse me desligar do estado de vigília, inútil era brigar com o colchão. Se rolar durante horas com o corpo para a esquerda, depois para direita, e cobrir a cabeça com o cobertor não surtissem efeito nenhum, o jeito era levantar da cama, lavar o rosto, apertar o botão que ligava um barulhento PC n. 486 e registrar todas as impressionantes revelações que me impediam de me desconectar do mundo, este planeta gigantesco e seus intermináveis mistérios, alguns dos quais ali, bem na minha frente, lembranças que em poucos dias poderiam ser reduzidas em sua importância, ou quem sabe esquecidas em algum lugar de um cérebro teimoso e egoísta que insistiu em lutar até o nascer do dia, luzes que finalmente nocautearam um par de olhos cansado de buscar, na escuridão do quarto, alguma explicação.