como pensar a crise atual dos modos de legitimação democrática? alguns autores estimam que no espaço internacional haja uma transformação em curso: a transição do direito internacional para o direito cosmopolita, e que seria representativa de uma possibilidade desejável para a resolução desses problemas. o direito cosmopolita pressupõe a democracia cosmopolita, que seria traduzida pela ideia de uma disseminação da soberania, uma tendência apoiada pelo seguinte conceito normativo: uma ordem internacional justa consolida a passagem de um sistema de soberania dos estados à sociedade solidária de povos e associações. como ficará claro, trata-se da cristalização de um pensamento comum a muitos autores que se dedicam ao tema da justiça internacional. contudo, como também tentarei mostrar, há certa diversidade de linguagens sobre o universalismo dos direitos humanos, e a mais pronunciada em termos de globalização é a linguagem da economia, a qual gera implicações cuja problematização filosófico-política por intermédio de uma teoria da justiça global é incontornável, no contexto de sociedades complexas. a análise empírica do modo de funcionamento de certas instituições supranacionais de fomento e regulação, como o banco mundial ou o fundo monetário internacional, associada à verificação dos resultados apresentados desde 1990 pelo relatório de desenvolvimento humano do programa das nações unidas para o desenvolvimento, informa que o projeto de governança global, influenciado pela posição de hegemonia que a economia neoclássica ocupa no pensamento econômico, caminha numa direção contrária à sustentabilidade ecológica e social, que deveria promover.