Houve um tempo, não muito tempo, em que o Brasil viveu sob uma ditadura. Em nome da democracia, fecharam partidos, amordaçaram sindicatos, mataram a liberdade. Para salvá-la, aboliu-se a democracia. E a tortura foi adotada como política de Estado. No quadro de um furioso processo de modernização que aprofundou desigualdades sociais gritantes. Entretanto, com o tempo, e de maneira gradual, a ditadura cedeu lugar à restauração da democracia. Surgiu aí uma história que se quis alternativa, para logo se tornar oficial. Nos seus registros, a ditadura foi só repressão, trevas e chumbo. Muito chumbo. Os responsáveis? Militares brutais. Ditadura militar. A sociedade passou a execrá-la. Mas não terá sido a ditadura uma construção com sólidos fundamentos? Lucia Grinberg levanta um importante fio dos muitos de que se compõe este novelo ainda largamente desconhecido. O fio em questão, grosso fio, é a Arena: Aliança Renovadora Nacional, desde a fundação, em 1965, até o fim, dela e da ditadura, em 1979. A estrutura gigantesca, ramificada, capilar. As lideranças ilustres, políticas, empresariais, religiosas, intelectuais. Homens e mulheres de bem, queridos, bons de voto. E as nuanças, a evolução contraditória, as ambivalências, as metamorfoses. Um quadro complexo. Um grande partido. Virou um bode expiatório, objeto de chacota. Mas a análise cuidadosa evidencia que era muito mais do que um partido grande. Era o partido da ditadura civil-militar. Lucia elucida. Depois deste livro, será impossível pensar na ditadura sem cogitar de suas poderosas bases: sociais, culturais, políticas, históricas. Daniel Aarão Reis Professor titular de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF)*****Lucia Grinberg é doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Lecionou no Instituto de Humanidades da Universidade Cândido Mendes e atualmente é professora adjunta no Departamento de História e no Programa de Pós-graduação em História das Instituições da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e pesquisadora associada ao Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense (Labhoi/UFF). É autora de artigos e livros, dentre os quais Memórias da Justiça Federal (1965-1988), em colaboração com Paulo Knauss, e Para Conhecer Machado de Assis e Para Conhecer Chica da Silva, em colaboração com Keila Grinberg e Anita Correia Lima de Almeida.