Florbela Espanca teve uma vida breve e intensa. Nasceu a 8 de Dezembro de 1894, em Vila Viçosa, no Alentejo, tendo-se suicidado em Matosinhos em 1930, no dia do seu aniversário. A sua poesia foi marcada por um erotismo que Jorge de Sena considerou ser «uma das mais importantes expressões de feminino na poesia portuguesa». Baptizada como Flor Bela de Alma da Conceição Espanca, era filha de Antónia da Conceição Lobo e do republicano João Maria Espanca, casado com outra mulher. Por isso, tanto Florbela, como o seu irmão Apeles, com quem ela manteria uma estreita relação, foram registados como filhos ilegítimos de pai incógnito. Os primeiros poemas de Florbela Espanca foram escritos aos nove anos. «A Vida e a Morte», um soneto, foi dedicado ao irmão. Em 1907, escreveu o seu primeiro conto, «Mamã!». A mãe faleceria no ano seguinte com apenas vinte e nove anos. A família deslocou-se então para Évora, onde Florbela ingressou no liceu André Gouveia e requisitou na biblioteca pública obras de Alexandre Dumas, Balzac, Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro e Garrett. Em 1911, Florbela iniciou namoro com Alberto Moutinho, seu colega de escola, com quem casou. O casal habitou primeiro no Redondo, depois em Évora. No regresso ao Redondo em 1916 a poetisa reuniu uma selecção dos seus poemas em Trocando Olhares. Foi nessa época que começou também a colaborar em diversos jornais e revistas como o Notícias de Évora ou o suplemento Modas e Bordados, de O Século. Depois de completar o 11.º ano do curso complementar de Letras, Florbela foi uma das catorze mulheres entre 347 alunos que se inscreveram na Faculdade de Direito de Lisboa. Na sequência de um aborto involuntário, em 1918, convalesceu nos arredores de Olhão, onde apresentou os primeiros sinais sérios de neurose. Em 1919, o seu Livro de Mágoas esgotou a edição de duzentos exemplares. No ano seguinte, deixou o marido para passar a viver com António Guimarães, um alferes da Guarda Republicana com quem se casaria depois. Em 1922, a Seara Nova, acabada de fundar mas já prestigiada, publicou o seu soneto «Prince Charmant…». No ano seguinte, saiu a sua segunda colectânea de sonetos, Livro de Soror Saudade, uma edição de autor custeada pelo pai. Em 1925, divorciou-se pela segunda vez, tendo casado ainda nesse ano com o médico Mário Pereira Lage. O casal passou a viver em Matosinhos a partir de 1926. Em 1927, verifica-se um acontecimento que abalou o já frágil equilíbrio de Florbela, a morte do seu irmão Apeles num acidente de aviação (homenageou-o com os contos de As Máscaras do Destino, de publicação póstuma em 1931). Depois de uma primeira tentativa de suicídio em 1928, Florbela começa a escrever o seu Diário do Último Ano. Em meados de 1930, iniciou correspondência com Guido Battelli, professor visitante na Universidade de Coimbra, e que organizou a publicação de Charneca em Flor em 1931. Florbela escrevia então na revista Civilização e no jornal O Primeiro de Janeiro, e sofria de um edema pulmonar. Faleceu em Matosinhos, no dia do seu 36.º aniversário, sendo a causa da morte uma sobredose de barbitúricos. O reconhecimento da obra de Florbela Espanca esteve durante anos entregue a um escasso número de leitores e à indiferença da crítica, situação que se alterou quando José Régio a considerou, em 1950, a «maior poetisa portuguesa de qualquer tempo e um dos grandes nomes da nossa poesia moderna».