A mais nova obra do premiado poeta gaúcho Fabrício Carpinejar, autor do sucesso Cinco Marias, é uma combinação de dois trabalhos independentes: Como no céu e Livro de visitas. O primeiro é solar; o segundo, escuro. Enquanto Como no céu acontece de um lado, Livro de Visitas ocorre do outro e será lido de trás para diante, do fim ao início. Publicados em um único volume, sem contracapa, os livros tratam de uma mesma história o cotidiano de uma relação a dois com finais diferentes. Sutilezas no decorrer das histórias definem e alteram o destino do par de personagens. Em Como no céu, a paciência amorosa conseguiu superar os problemas causados pela intimidade e pela rotina; já em Livro de visitas, o tempo passou por cima do casal e deixou um incontrolável rastro de destruição. Por meio de sua poesia fluente, Carpinejar reflete sobre as duas faces de uma só moeda o amor. É exatamente nesse conflito que a obra vai encontrar a sua força: os poemas de Como no céu (título que conclui a oração do Pai Nosso: "Assim na terra...") completam e confrontam os de Livro de visitas. No primeiro ainda há luz, esperança, humor e diálogo presentes na vida dos protagonistas. Porém, no segundo, tudo está coberto por sombras, rugas, sarcasmo e egoísmo. Carpinejar tece o que chama de "crônica lírica de costumes" ou "novela em versos dos hábitos e vícios da convivência". Em Como no céu predomina a delicadeza e a partilha dos detalhes: De acordo com Carpinejar, as cartas de amor deveriam ser abertas com os dentes. Millôr, que faz a apresentação, recomenda: "Vai. Lê ele. Devagar. Decifrao. E ele te devora". Por sua vez, em Livro de visitas persiste a briga, a ironia e a incompreensão: Em um tom conversado e coloquial, o escritor mostra a indiferença que culmina na separação, a acomodação que desemboca no descontentamento. Os flagrantes poéticos são implacáveis e não poupam nem o excesso de peso adquirido com o casamento. Nas palavras do autor, é uma obra bipolar: de um lado está a vontade de vencer e de acertar; de outro, o medo de perder e de errar. E, afinal, é sobre essa dualidade que se sustenta o desejo.