Neste livro, Maria Aparecida de Menezes Borrego ajuda a entender melhor a urbanização peculiar das Minas. Ancorada na documentação muitas vezes maçante da Câmara de Vila Rica - editais, bandos, portarias, petições, arrematações, despachos, correspondência oficial -, analisa o surgimento do núcleo urbano à luz do processo de formação da capitania, vendo seu espaço como expressão do universo mental que lhe conduzia as ações, com lógica própria, organicidade e adaptação harmônica à paisagem circundante. O caráter oficial dos documentos obriga a ler nas entrelinhas mas não impede, conforme mostra a autora, que se des-nudem tanto as exigências das instâncias de poder como as resistências da população frente a elas. No marco cronológico compreendido entre 1702 - quando o Regimento dos superintendentes, guarda-mores e oficiais deputados para as Minas do Ouro regulamenta a distribuição de terras - e 1748, quando, sob o governo de Gomes Freire de Andrada, se constrói o palácio dos governadores, a autora estuda o parcelamento territorial, as tensões entre grupos e o diálogo entre códigos e práticas, mostrando que a letra escrita ganha sentido quando confrontada com os procedimentos do dia-a-dia.