Transgressões são parte integrante da juventude do outro século. Zooties, pachucos, mods, bikers, hippies e punks tornaram-se paradigmas históricos das formas de contestação assumidas por novas gerações sucessivas que buscavam encontrar seu lugar num mundo elaborado pelos que os antecederam. Mas o que fazer quando seus pais, ou os pais de seus pais, habitam um espaço tão fragmentado quanto aquele em que se é jovem agora? Como construir uma resposta para um universo que se dissolve constantemente? Que espécie de contestação contestará a modernidade líquida ou gasosa que nos desafia? A que se opor quando tudo se oferece? É este desajuste contemporâneo a qualquer perspectiva que une e articula as questões propostas neste livro. Aproximar o seriado americano Glee ao funk carioca, deambular entre pichações, dançar ao som (e se render à estética) da Gaiola da Popozudas, questionar narrativas de alteridade e de exclusão social, misturar cineclubes e vídeos pornôs são ações que põem em diálogo textos e práticas do mundo que está aí. Longe de buscar um equilíbrio representativo de alguma coisa que não se sabe bem o quê, por quê e como reapresenta, os textos aqui reunidos propõem um embate de incertezas que desafiam a própria ideia de transgressão juvenil num momento em que o desafio pode se fazer tanto através de uma série de televisão a cabo quanto da exposição e valorização de "popozões" em bailes de periferias ou do trabalho dentro de uma sala de aula com as paredes pichadas de imagens de desesperos, desafios ou denúncias. Entender este emaranhado é esvaziá-lo de seus sentidos mais importantes. Mergulhar nele como quem se deixa levar pelo "pancadão" tribal dos subúrbios cariocas, pode trazer algumas respostas e suscitar novas perguntas. Mas quem está interessado em perguntas e respostas quando festa está rolando solta lá fora, ou aqui dentro? Aumenta o som, bebe mais uma dose, liga a televisão e mete a jaca no balde que o baile vai começar.