Compreender tempos sombrios, eis a tarefa do historiador. Lembrar aquilo que uma sociedade quer esquecer e contribuir para que eventos autoritários não se repitam. Dayane Rúbila Lobo Hessmann, ao estudar a atuação do delegado Zonildo Castello Branco, contribui para o entendimento não só de um determinado sujeito histórico em seu tempo, mas traz à tona indícios do pensamento autoritário que marcou nossa recente Ditadura civil-militar. O que pensava um agente da repressão? Essa é a questão respondida neste trabalho, avançando por caminhos até então não estudados na historiografia sobre as ditaduras de segurança nacional que marcaram nosso continente durante a Guerra Fria. Em que medida o medo, o ódio e a paranoia podem legitimar a prática repressiva? Quem era o suposto inimigo a ser combatido e quais suas características? Ao se basear em novas perspectivas, como os sentimentos na política, Dayane Hessmann demonstra que esses agentes acreditavam estar cumprindo uma missão salvacionista ao perseguirem inimigos da nação, os quais colocariam em risco a segurança nacional. Tal prática resultou, porém, em grande arbítrio e violência, tornando o dissonante em suspeito, o diferente em inimigo. Um sentimento paranoico se espalhou pelas Forças Armadas e parte da sociedade, vendo comunistas em praticamente todos os lugares, ocupando todos os espaços, mas, por outro lado, contribuindo para a supressão de garantias e liberdades individuais e democráticas. Toda forma de contestação ao regime foi violentamente coibida, milhares foram presos e torturados. Centenas ainda estão desaparecidos. Como tudo isso foi possível? Parte dessas respostas podem ser encontradas nas ideias que motivaram Zonildo Castello Branco. Por certo, elas não eram exclusividade sua, mas de uma parcela significativa da sociedade. Infelizmente, algumas dessas ideias insistem em permanecer, impedindo verdadeiros avanços democráticos e estimulando marchas que pedem a volta dos militares. Por combatermos práticas e discursos autoritários, mas também por almejarmos compreender como eles se tornaram possíveis, a leitura do trabalho de Dayane Hessmann torna-se essencial.