Dentre os clássicos de espiritualidade, a Imitação de Cristo sempre ocupou um lugar à parte desde que, nos idos do século XV, um monge da regra de Santo Agostinho reduziu a máximas um vasto cabedal de conselhos espirituais. Por que não sai de moda, se parece ter em vista mais os recluídos no claustro do que o homem da rua, se as circunstâncias mudaram, se fala numa linguagem de um laconismo incômodo? A alma humana não muda. Os homens oscilam em suas turbulências, mas trata-se sempre de movimentos pendulares que, mais cedo ou mais tarde, refluem ao seu eixo para nele encontrarem o seu ponto de repouso: Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em Ti. Todas as tentativas de evasão desembocam na melancolia da canção hippie: liberdade não é senão outra maneira de dizer que nada sobrou para ser perdido. A Imitação centra-se nesse eixo inevitável. Repleta de observações finamente psicológicas, contrapõe o homem sem finalidade àquele que (...)