Cerca de três bilhões de pessoas (sub)vivendo com dois dólares diários. Um número alarmante que pode chegar a cinco bilhões em três décadas, levando-se em conta um crescimento populacional estimado em 80 milhões de indivíduos/ano. Eis um dos retratos da globalização. Considerado por muitos que o defendem um meio irreversível e positivo de integração transnacional, o fenômeno da globalização não tem como ocultar sua face perversa de marginalização e sua nefasta política de contradições. A máscara da integração não é capaz de cobrir a face desfigurada da miséria e da segregação. A nova ordem mundial, orquestrada pelo capitalismo global e pelo neoliberalismo, faz reféns de sua lógica autodestrutiva trabalhadores urbanos e rurais, cada vez mais expropriados e privados de direitos básicos. Já é lamentavelmente clássico o exemplo da Nike, cujos tênis são produzidos por mão-de-obra barata a um custo unitário de 70 a 80 centavos nas fábricas da Indonésia e vendidos a 120 dólares nos Estados Unidos. A situação se revela ainda mais cruel em relação às crianças: calcula-se, hoje, haver pelo menos 250 milhões delas exercendo algum tipo de trabalho. Em Pedagogia revolucionária na globalização, os autores dissecam alguns dos mecanismos da globalização para, em contraposição, engendrar uma pedagogia da resistência. Eles observam que a dinâmica da resistência continua ativa, a despeito do colapso da maioria dos países comunistas. Exemplos, locais e internacionais, não faltam: os zapatistas, no México, o movimento Tupac Amaru, no Peru, as constantes sublevações nos territórios ocupados da Palestina e as lutas da classe trabalhadora na Coréia do Sul. A pedagogia revolucionária analisada neste livro ressalta a participação ativa de trabalhadores e estudantes em sua auto-educação e auto-realização cidadã. O objetivo é adquirir controle do trabalho físico e intelectual, por meio de redes alternativas de organização popular, e promover um estado aguçado de consciência crítica. O primeiro passo dessa longa caminhada é dizer não ao conformismo.