"Sou uma mulher de detalhes fortes nos músculos do coração. Viver não é apenas estar aqui bebendo a água ou tocando o fogo. Viver pode ser alguma coisa a mais, além dessa exatidão humana. Por isso denuncio a minha alma: ela tem desvios. Não é perecível nem inadulterável. Parece oca quando choro. Desaparece sem tréguas quando morro. Molha-se com a chuva e se mofa, exalando um cheiro de pêras envelhecidas no pé. Mas depois, entre tantas razões, recupera-se e vibra como corda de aço dedilhada pelos meus dedos longos e agudos, revelando-me a essência indecifrável dessa existência vasculhada em panos e fios de algodão, a olhar-se no espelho até o fim"