Raros são os documentos do século xvii sobre a vida de Zumbi dos Palmares ou sua luta. O que a história nos legou foi uma vasta quantidade de comentários e impressões sobre o líder negro, expressos, desde o século xviii, por historiadores, viajantes, políticos, educadores, antropólogos, romancistas e outros homens de cultura. Os historiadores Jean Marcel Carvalho França e Ricardo Alexandre Ferreira apresentam em Três vezes Zumbi um mapa das diferentes versões que a sociedade brasileira formulou desse personagem. Os autores examinam as construções culturais de Zumbi, criadas em três períodos da história: o colonial, o da formação do Brasil como nação (até as três primeiras décadas do século xx) e o contemporâneo, que associou o líder negro à luta contra as injustiças sociais. Segundo a abordagem audaciosa de França e Ferreira, não é possível ter acesso a uma verdade definitiva sobre Zumbi - o que existe é apenas a construção paulatina e variável de perfis para esse herói brasileiro, conforme as aspirações e as demandas de cada época.