Bem de perto, os heróis cheiram mal. É isso que denuncia sua humanidade. E é assim que os mitos começam a ruir. Episódios históricos só viram épicos à custa do extermínio das verdades inconvenientes. Forjam-se heróis para ocultar homens. A história é transformada em lenda. E lenda, nesse caso, é a história lavada de suas indignidades. A Longa Marcha é o mito fundador da China de Mao Tse-tung. Em 1934, o exército comunista, que pode ter chegado a 200 mil pessoas - os números são controversos - foi expulso de suas bases pelas tropas nacionalistas de Chiang Kaishek. Empreendeu então uma travessia que superou os dez mil quilômetros. Estima-se que apenas um quinto chegou até o fim. Os sobreviventes fundaram a nova China não sobre a história da Longa Marcha, mas sobre a lenda. Ela se tornou a peça de propaganda da revolução. Sun Shuyun, como todos os chineses, cresceu embalada por canções e filmes heróicos. O mito é parte do que ela é. Mas havia demasiadas perguntas sem respostas.