A alquimia verbal de Joana Corona, em seu livro de estreia, realiza uma síntese entre memória e mundo, sensibilidade e narrativa, o corpo humano e diferentes tipos de matérias, para criar seres de linguagem que já transcendem a caligrafia: são seres plásticos, de uma imaginação delirante, menos surreal que barroquizante. O título do livro, Crostácea, já indica essa vocação taumatúrgica, sendo um neologismo de matiz joyceana que funde o ser orgânico (crustáceo) a uma qualidade de diferentes tipos de superfície (crosta) e ainda o ornato em forma de rosa (rosácea). A palavra é um talismã que aponta ainda a estratégia textual da autora, que despreza as fronteiras entre a poesia em verso e a prosa narrativa, investindo a imaginação em grafias híbridas, que resistem à fácil classificação em algum gênero literário (e por isso mesmo são poemas). Joana Corona é feiticeira. Este livro é o seu grimoire e o seu círculo mágico.