Desde a Antiguidade, os relatos de viagem fascinam os leitores. A História, como tentativa de compreensão da trajetória humana na Terra, tem em sua origem a curiosidade dos primeiros viajantes, interessados não só em observar paisagens, mas principalmente em entender o outro, em seus costumes, línguas, comportamentos. O tempo reduziu os espaços - e o leitor pode se perguntar se há lugar ainda hoje, num mundo intoxicado pela informação, para livros de viagens. O Reino dos Puxões de Orelha e Outras Viagens responde afirmativamente a essa indagação. Porque cada deslocamento, sendo experiência única, pode transformar-se, nas mãos de um escritor sensível, em manancial de vivências a serem compartilhadas. E Luís Giffoni é uma dessas almas iluminadas - dono de vasta cultura, não perdeu aquela motivação infantil de saber, ver e conhecer mais e, generoso, participar suas descobertas. Assim, além de textos de primeiríssima qualidade, permeados de humor e ironia, que flertam a todo momento com a inteligência do leitor, oferece-nos dados históricos e geográficos, sem em momento algum resvalar no didatismo. Se, em Retalhos do Mundo, Giffoni refaz suas viagens pela Índia, Chile, Argentina, Estados Unidos, Indonésia, Nepal, México e Amazônia, neste O Reino dos Puxões de Orelha e Outras Viagens descreve uma incrível viagem de carro por dez mil quilômetros costa a costa dos Estados Unidos; apresenta-nos às belezas de Fernando de Noronha; fica sem fôlego nos Andes peruanos; mergulha nas águas do Pacífico Sul, em Manatu Bakara; pechincha em inglês na Tailândia; conhece a miséria por detrás do exotismo turístico do Egito; excursiona por cassinos ao redor do mundo e revela-nos o resultado das pesquisas sobre suas raízes mineiro-italianas. Agora, se o leitor, tendo visitado algum dos lugares descritos no livro, não o reconhecer, espantando-se, como um amigo do autor em dada altura do livro "Acho que visitamos países diferentes. Não vi nada daquilo que você viu"-, aceite com humildade a resposta do autor: "Pois é, sou ficcionista. Vivo de criar ilusões com tempero de realidade".