E vivemos infelizes para sempre é uma prosa do cotidiano de inúmeras sujeitas que, ao ingressarem nas relações afetivas, se deparam com a violência patriarcal. Renata Rodrigues narra, como se falasse a uma amiga, a cronologia de uma tragédia anunciada ao leitor, mas não para quem vivencia. Vemos uma mulher que se torna uma máquina de fechar caixas enquanto encaixotava a sua vida em um mundo que não lhe cabia. A ideia do amor romântico em nossa sociedade nos impõe desde cedo o desejo de realização do ser por meio da relação, a cristandade atrelada a isso nos prepara para sempre dar a outra face. E damos tudo. Damos nosso corpo, nosso tempo, nossa energia e abdicamos do nosso desejo, dos fetiches, dos sonhos e nos perdemos em sonhos outros que não são os nossos. Ao ser apresentada a uma personagem que caminha em um deserto de afetos, pensei logo no dito de que quando sentimos sede, uma gota de água parece um rio. Quando não estamos acostumados com o afeto, uma migalha torna-se (...)