Não pude ler PAI sem me lembrar do verso de Manuel Bandeira que diz que o poema deve Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero. O pai sempre está lá, nas histórias de nós, mulheres. A figura do pai herói existe, mas é rara. Desconfio que muitas vezes até inventada para tornar tudo mais suportável. Em geral, o pai é a interdição, a violência que nos assola Ou a pura ausência (que não deixa de ser violenta). Isso é um pouco que do PAI, este livro, revela. Porque ele não é sobre um pai. É sobre uma mãe, uma filha, uma neta. É sobre ser atravessada, rasgada e violentada de tantas maneiras, pelos homens, pelo Estado, pela Igreja, por ser Mulher. É um texto difícil se apresentar, pois tem muitas camadas, sutilezas, nuances, gritos e sussurros. Desdobramentos de sentido que apenas quem domina a arte da linguagem e faz dela massa de moldar consegue produzir. Quem torce a língua e alcança seus silêncios. Mas para alcançar o que PAI expressa precisa ter além do domínio da linguagem(...)