Obra indispensável para se compreender o Brasil, suas origens e populações, este livro analisa a violência das políticas coloniais lusitanas na imposição do português durante a conquista do território amazônico, fato que ocasionou a extinção de vários dos quase setecentos dialetos indígenas falados nas margens do "Rio Babel" - expressão cunhada pelo padre Antônio Vieira diante de seu fascínio pela riqueza dialetal da região. Num texto ágil, o autor frisa a importância do intercâmbio entre o tupi e o português durante a vigência do bilingüismo, que perdurou até meados do século XIX. Acena ainda para um dinâmico sistema de trocas simbólicas entre culturas alienígenas e aborígenes, num processo continuamente abastecido pelo lastro da tradição oral e pela vitalidade da produção literária. Fruto de pesquisas históricas bem conduzidas e documentadas que contribuem para esclarecer a realidade lingüística da população amazônica dos séculos XVII ao XIX, aborda, entre outros assuntos, a história e a extensão da língua geral amazônica - ainda pouco conhecida e, por isso mesmo, obscurecida por equívocos e idéias preconcebidas -, apresenta um quadro geral das línguas na região, trata das políticas lingüísticas do período e finaliza apresentando a passagem da língua geral - ou nheengatu - para o português. Isso nos traz a chave para entender como a Amazônia - metade do território da América portuguesa e onde a maior parte da população falava a língua geral - foi incorporada à nação brasileira. Ao penetrar nesse mundo, guiado pela escrita clara e segura do professor José Ribamar Bessa Freire, o leitor vai conhecer desvãos da nossa história cujo acesso lhe foi sonegado na escola e continua sendo obliterado nas versões canônicas e nos discursos oficiais, mas presentes na língua que falamos e escrevemos.