Em Corpo em evidência, Francisco Ortega e Rafaela Zorzanelli abordam o modo como na contemporaneidade nossa visão do próprio corpo se tornou cada vez mais mediada pela Medicina. Intervenções cirúrgicas de todo tipo, escaneamentos internos da matéria, medicamentos reguladores das funções são exemplos de como a estrutura corporal se deixou apreender pela prática e pelo discurso normalizador da ciência médica. Em outro momento, os autores se dedicam a analisar de que forma o corpo é atualmente submetido a todo tipo de intervenção. As próteses visam tanto a suprir deficiências inatas ou adquiridas ao longo da vida quanto a desempenhar tarefas não previstas no projeto original. Se os limites corporais são expandidos, também uma vasta parafernália biotecnológica submete a corporeidade a todo tipo de manipulação.Como dizem de forma precisa Ortega e Zorzanelli: “Esse rol de processos é compreendido como modulações biopolíticas, isto é, como nuances nos modos como os fenômenos próprios à vida da espécie humana são utilizados no campo das técnicas políticas. As vicissitudes contemporâneas apontam para a emergência de formas de cidadania biológica e informacional”. A isenção e a profundidade crítica de que é dotado este estudo o torna uma referência indispensável para os que se interessam pelas recentes abordagens da questão corporal, bem como por suas consequências para as experiências sociopolíticas do novo milênio.