Velas, marés, horizontes, sargaços, sextantes e sereias essas imagens estão conosco desde que a poesia é poesia. Épicas na origem, elas ressurgem neste Diário de Porto Pim em outro registro lírico, rememorativo e reflexivo, mais que narrativo. Não por amor à citação, mas porque os poemas de Fernando Moreira Salles são habitados pela dúvida sobre o sentido e a mera possibilidade da ação. Se as águas não tardam a apagar as pegadas na areia, se os sonhos se devoram (e a noite/ faz o resto), se amar é ferir e se viver é profanar-se na vertigem/ de cada dia, então esta deverá ser, em primeiro lugar, uma poesia da perda. Perda constatada sem dó, mas com uma sobriedade que, quando já não parecia haver lugar para mais nada, abre espaço para, no tempo/ que resta, na justa medida do humano e do imanente, ainda sonhar com um lugar, Pasárgada ou Porto Pim, onde sou/ amigo de mim, onde um dia/ quem sabe/ meu destino/ morre sem mim. Nessa clareira exígua, essa poesia do desencanto corre [...]