O que se propõe neste livro não é uma ´interpretação filosófica´ de sua escrita, como se fosse possível estabelecer sua verdade e sua força a partir de outro discurso, mas produzir uma conexão entre a escrita clariciana e a filosofia de Gilles Deleuze. Não se trata, portanto, de estabelecer verdades acerca dessa escrita, mas compor linhas entre Clarice e Deleuze: fazer rizoma. O autor escolheu uma porta de entrada nesse rizoma, pois são possíveis várias: a crítica à nossa imagem de pensamento-representação, imagem essa desvitalizada, petrificada numa língua. No cruzamento entre literatura e vida e tanto Deleuze quanto Clarice produzem uma vitalização da linguagem, dão a ela seu momento de sopro, seu intervalo, buscam seu silêncio como vazio de formas e plenitude de forças. Fazem da linguagem um lugar onde todas as conexões são possíveis e que ao mesmo tempo instaura uma outra solidão. Nesse cruzamento, o autor encontrou a escrita de Clarice sobre o amor, o outro, a morte, o eu, o tempo, a vida como tragédia plena de comicidade, pois há um cômico clariciano, uma bobagem do amor, uma leveza animal, um uso de máscaras que nos faz passar do trágico ao cômico, mas sem perder o sangue, o corpo, a experimentação da finitude que há nesse comicidade