Do Romance Acontecerá de Muito Acontecer, de Carlos Nejar: Não há armazém de escombros, mas armazém do invisível que se deposita como a areia na margem do rio. E todos os rios têm a mesma margem. Quando a realidade se imagina ou inventa. E é mais realidade ao parecer ser menos. Percebo, aos poucos, ser a Esfinge como o labirinto, o caos antes da criação. E o que Édipo decifra é o mundo, a escrita ou larva dos signos. Tudo, sim, acontece por dentro, querendo ser símbolo, depois explode fora, no vagar, como a mão na semente. Percebi. A morte, se é aquecida, vive. Se esfria, tem mais morte ainda. Como José Ladino, cigano e erudito, entre tachos e volumes, chorava pedra no esquecimento, que a memória em ribeiro de Proust deslizava. Só é palavra o Universo. O que vi acontecer, já persiste acontecendo no futuro. Deus dói e vai voando muito perto. Junto. E o que se encanta não sabe quanto foi encantado, nem o que voa repara quanto voou.