“Te dou minha palavra” — tenho a impressão de que Casca fina Casca grossa, primeiro livro de poemas de Lilian Escorel, se organiza em torno desse verso, ou melhor, da conversão dessa frase-compromisso em verso no poema “Palavra”. Porque é o livro de alguém que dedica a vida às palavras — como leitora, professora, tradutora e poeta — e percebe a hora em que, para não se sufocar com “suas” palavras e tudo que guardam dos afetos e atritos do mundo, é preciso desafiá-las. E distribuí-las. Esses poemas em que Lilian dá sua palavra (compromete-se e expõe-se) me fizeram lembrar da exposição “Você me dá a sua palavra?”, de Elida Tessler. Nela, a artista apresenta centenas de prendedores de roupa de madeira com palavras escolhidas e escritas por pessoas de várias partes e línguas do mundo. Lá e cá, o gesto comove: ouvir e fazer ouvir, acolher a palavra alheia, dividir as próprias palavras.