Por Ulisses Belleigoli Jornalista, Contador de Histórias, Psicanalista Membro do Ato Freudiano Escola de Psicanálise de Juiz de Fora A interlocução entre Psicanálise e Educação remonta aos trabalhos originais de Freud, que já se ocupava em tentar estabelecer um laço entre esses campos do saber. Depois de mais de um século, essa aproximação parece ser ainda mais valiosa, tanto para educadores, quanto para psicanalistas, pois as indagações sobre a economia psíquica das crianças e dos adolescentes são uma demanda constante na clínica e na escola. No entanto, ainda assim, poucos se arriscam a mexer nesse vespeiro. Afinal de contas, a sexualidade infantil e o saber inconsciente que são elementos básicos nessa investigação ainda são fonte de embaraços e rechaços na sociedade contemporânea. Eis o motivo pelo qual o texto de Gláucia Pinheiro é tão precioso. Os questionamentos propostos aqui não estão arquitetados conforme manda o saber acadêmico. Antes, seguem a lógica de um sujeito. Como no desfiar (ou no enrolar) de um novelo, vemos a autora atravessada por um discurso colocar-se corajosamente diante de perguntas que inquietam professores e analistas. E é isso o que nos inspira a seguir com ela a cada página. Este livro equilibra-se sobre o sempre desafiador lugar do enigma: é efeito e, ao mesmo tempo, é busca. Aprender é construir, é poder operar com o saber que falta e inventá-lo, ensina-nos Gláucia. Estas páginas, forjadas da liga entre teoria e experiência, ilustram bem essa relação entre a falta e a invenção. No decorrer da leitura, testemunha-se um aprendizado que se constrói de angústias, de entusiasmo e por que não? de poesia. Por fim, entre as tantas incertezas que serão fundadas, há decerto uma garantia: algumas ilusões cairão por terra. Porém, dos vazios inaugurados, surgirão novas possibilidades de escuta. Essa é a aposta.