O livro todo está permeado por dois pólos: de um lado, o desejo de alçar vôo, de fazer a palavra ganhar carne. Do outro, o medo da não germinação, da “voz dormente no ventre, da incapacidade de florescer.” As asas viram cotocos, fogem do corpo do poeta. A sensação de fracasso, de não se alcançar a poesia, de ficar apenas com fiapos na mão, faz parte das incertezas de quase todo poeta. Principalmente, daqueles nascidos “no solo de agosto”.Sônia Barros compõe uma delicada partitura, cheia de temas recorrentes. Uma música de câmara que ora ilumina ora escurece. A voz do poeta está presa ao próprio sentido do corpo. Ressalto uma mudança de ponto de vista quando ela deixa de olhar para o alto e volta seu olhar para a relva e as formigas. É quando surgem os olhos do filho. Da sobrevivência improvável (Origens) ao nascimento do filho completa-se um ciclo. A poesia surge como possibilidade de reflexão sobre esse trajeto e de cauterização de feridas.Encaro os poemas de Sônia como um interrogar-se sobre a capacidade poética. Uma necessidade de refletir sobre sua poesia antes mesmo de lançar-se sobre ela. Teve a necessária paciência. Cevou e esperou. Ela veio. Agora, é perder o medo e buscar a inteireza do vôo. É entregar-se àquela que o poeta Rubens Rodrigues Torres Filho chamou de “a obscura religião dos pássaros”.