“A escrita da Marcia morde, marca, nos tira da ilusão confortável que inventamos para sofrer pouco. A falsa paz nossa de cada dia. Aguça nossos mal dissimulados conflitos e faz balançar as paredes das certezas aparentes de nossas casas frágeis. Nos confronta com inseguranças várias e embutidas. Cria mundos em erosão ou evidencia o que não queríamos admitir, e nos abandona lá. Suas criaturas são carentes e nem sabem exatamente de quê, e ao mesmo tempo são autossuficientes por dever. Porque não há válvula de escape, paraíso para onde ir. Vivem porque têm fome. Corpos em decomposição agonizam de prazer e putrefação. Fazem sexo por fazer, por lazer e distração, por poder e obrigação. Há movimentos contínuos e repetitivos. Não há possibilidade de fuga. Há vício e luta pelo pão do espírito. Há o inferno cotidiano que nos acompanha, carrasco íntimo, que se não nos mata, nos obriga a reagir.“A escrita da Marcia morde, marca, nos tira da ilusão confortável que inventamos para sofrer pouco.