Maior poeta português da sua época, depois do seu maior amigo Fernando Pessoa, a obra de Mário de Sá-Carneiro é, em grande parte, inseparável da sua vida, característica tão mais própria dos românticos. Um dos casos mais fascinantes da literatura portuguesa, sua arte sai diretamente do Simbolismo, como a do Fernando Pessoa ele mesmo, para penetrar de rijo no êxtase de sensações simultâneas do espírito moderno. Nesse movimento pendular entre uma sensibilidade lírica doentiamente sensível aos sons e às cores, e uma ânsia insaciada de absoluto que o impelia para a dispersão da personalidade nas grandes cidades tentaculares, Sá-Carneiro viveu física e esteticamente o desconforto de estar no mundo tema tão caro ao seu contemporâneo igualmente genial Augusto dos Anjos, que por fim o conduziu ao bombástico e teatral suicídio na Paris que tanto amava, aos 26 anos incompletos. A pequena obra poética que nos legou compõe-se de uma série de obras-primas, o que só aumenta a difícil tarefa de Lucila Nogueira na organização do presente livro. Alexei Bueno"De todos os modernistas portugueses, este é o que formula um projecto mais excessivo: faz a afirmação absoluta da poesia, tendo, ao mesmo tempo, a consciência perfeita da impossibilidade de a viver. A sua directa inspiração é a Vanguarda, sobretudo o Cubismo e o Futurismo, mas não é o menor de seus paradoxos o facto de se manter fiel ao Simbolismo fim de século." Fernando Cabral Martins