(...) Paulo não se limita a abordar o sexo enquanto erotismo "proibido" ou prazer "sujo". Aborda a própria sujeira, que extrapola o âmbito sexual pra borrifar outras formas de comportamento. Taras periféricas à libido, como a escatologia, o sadomasoquismo, a necrofilia & outros vícios ditos mórbidos são ingredientes do receituário sebenesco (quase digo "sebento"). Daí a designação de podres aplicada a seus poemas - e é justamente aí que sua obra casa totalmente com aquilo que aprecio, pois une as perversões de Sade ou Masoch com a erudição escatológica de Augusto dos Anjos, tudo costurado com a técnica segura de quem domina os recursos da forma, do metro & da rima. A essa porra toda Paulo ainda acrescenta um toque de atualidade pop através da gíria, dos cacoetes contraculturais, das alusões rockísticas que ensejam aproveitamento musical (aliás já concretizado por algumas bandas que têm feito canções de poemas seus). Um recurso que valorizo à beça é a coexistência do erudito com o coloquial, às vezes no mesmo verso. Termos científicos ou mitológicos como "onívora", "atávico", "esfíncteres", "húmus", "ícones", "hercúlea" confraternizam democraticamente com gírias & corruptelas tipo "Oquei", "proletas" ou "viado". (...) Em boa hora Paulo reúne todas essas peças num volume. Uma obra capaz de atingir autodefinições tão precisas como a de Caneta ou realidades tão cruéis como a de Cadáver de Elis, passando pela musicalidade latente dos que já viraram canção, como Sodomia e Churrasquinho, não podia permanecer inédita nem dispersa. (...). (Glauco Mattoso)