Pensar os conflitos e a violência em um mundo deveras marcado pela constância de suas expressões não é tarefa fácil, embora seja desafiante para o pesquisador que se propõe a atravessar os portões de uma instituição penitenciária. A pesquisa que deu origem a este livro nos convida a perceber o universo penitenciário para além da marginalidade, da invisibilidade e do silêncio com os quais tratamos freqüentemente esse mundo e principalmente os seus atores maiores: os presos. A análise feita por Vanderlan Silva nos propõe alternativas às noções generalizantes com as quais se definem, muitas vezes, os ‘‘reeducandos’’. Percorrendo os pavilhões no interior da penitenciária, bem como as celas, igualmente visitadas pelo pesquisador, que com astúcia conseguiu fugir do controle ao qual os dirigentes tentaram lhe impor durante as entrevistas realizadas com os presos, redescobriremos seres humanos que pensam, amam, sofrem, brigam, morrem, matam e, sobretudo, sonham com a liberdade, mesmo que muitas vezes, como vocês mesmos poderão perceber, ‘‘essa tal liberdade’’ seja um sonho diletante que ajuda a passar a vida ou a «tirar cadeia», como dizem os próprios presos. No mundo penitenciário, como em outros mundos, os conflitos e as violências praticadas não são fenômenos anormais ou raros; muito pelo contrário, eles estão na ordem do dia, ajudando a definir e a recompor, constantemente, um mundo tão instigante quanto o que este livro nos apresenta.