A rainha Albemarle ou o último turista - fragmentos, de Jean-Paul Sartre (192 pp.), é um diário de viagem inacabado escrito pelo filósofo francês durante e logo após uma visita à Itália no outono de 1951. Seu texto foi estabelecido e anotado por Arlette Elkaïm-Sartre "filha adotiva de Sartre, que também responde pela apresentação - e traduzido por Júlio Castañon Guimarães. O subtítulo, fragmentos, se explica não tanto pelo texto ser constuído de pequenas partes esparsas, mas porque Sartre, envolvido em seguida em outros projetos, principalmente políticos, deixou o livro inacabado, sem formar um todo orgânico. Mas isto não importa, porque é perfeitamente coerente com o projeto em si. Como explicita a "Apresentação": "Esse [recente] desejo de escrever em liberdade logo se volta para a própria Itália. Em Roma, Nápoles e Capri, ele toma notas, essencialmente descritivas, em suportes improvisados. [Depois] em Veneza, continua a escrever em um caderno, escolhendo as palavras para fazer a presença da cidade vibrar - [o relato] assume [então] a forma de um diário, com um tom que permanecerá nas versões posteriores - mistura de emoção e ironia". Ironia, tratando-se de Sartre, se entende. Emoção, entende-se menos, pois esse é o homem que tentou juntar literatura e filosofia, narração e tese. Mas A rainha Albemarle ou o último turista revela um Sartre diferente, que quer respirar mais livremente depois de dois anos exaustivos dedicados ao livro sobre Jean Genet, e antes do início de seu engajamento político direto, que se avizinha e que ele naturalmente adivinha.