Tenho me encantado com os poemas de Karen, poemas que trazem uma força humana que raramente encontramos na poesia jovem, mais preocupada com os modismos de linguagem, com os estilos de grife. Karen não faz parte do discurso poético contemporâneo. Ela não pertence à poesia da agoridade. O seu tempo é quando. Nela, a poesia é a manifestação do atemporal. Poesia de um lirismo pungente, que revela uma mulher com sonhos e tormentas à flor da pele. O que torna tão densa a sua poesia é o ritmo que ela imprime a uma série de palavras de uso comum, com quebras e repetições, com volteios semânticos e melódicos, é a energia que liga cada uma das palavras e desencadeia pequenos curtos-circuitos, é a música por trás destas palavras, é a paixão por trás desta música, é enfim a pessoa por trás de tudo. É esta maneira profunda de habitar a palavra que caracteriza o seu lirismo. O lirismo é sempre um adoecimento da linguagem. Ele a retira de sua temperatura normal, de sua frieza de coisa, para que ela seja algo vivo, sujeito aos estremecimentos emocionais. Como diz em um dos poemas, Karen é dona de um mundo próprio, um mundo fictício, de sonhos e de palavras adoecidas, que ela compartilha com os leitores em poemas até agora secretos. Miguel Sanches Neto