Muito já foi dito sobre o amor e os relacionamentos, mas nem tudo com a graça e a sagacidade de Veronica Debom. O abacaxi, sua estreia na dramaturgia, revela não só uma autora com ótimo repertório forjado na experiência como atriz, mas também uma leitora do mundo. A peça é a história de vários casais e de como eles [não] se relacionam. Da monogamia ao poliamor, passando por traições e pequenas crises cotidianas. Veronica (des)constrói, em um espaço curtíssimo, as questões mais aflitivas dos amores pós-modernos. Que a comédia seja o tom escolhido é mero detalhe; há em O abacaxi um arco dramático que faz rir ao mesmo tempo que emociona pela mira certeira. Ler esta peça hoje é também olhar um pouco para dentro, indagar ao nosso eu mais íntimo que personagem somos num encontro amoroso. Que tipo de pele vestimos, quais armaduras deixamos para trás. O que sobra quando o que se recompõe, dia após dia, ano após ano, amor após amor não passa da mesma pele de sempre. Mateus Baldi