Tudo neste livro é contra as regras batidas com as quais se conta a história da América Latina. Não nos sentimos representados por guerrilheiros ou por indignados líderes andinos e suas roupas coloridas. Não há aqui destaque para veias abertas do continente, mas para feridas devidamente tratadas e curadas com a ajuda de grandes potências. Conhecemos bem as tragédias que nossos antepassados índios e negros sofreram – mas, honestamente, estamos cansados de falar sobre elas. E acreditamos que todos os povos passaram por desgraças semelhantes, inclusive aqueles que muitos de nós adoram acusar. Na história de quase todo país, é comum abrilhantar as palavras de fi guras públicas e até inventar virtudes de seu caráter – e não passa de chatice fi car insistindo numa realidade menos interessante. Acontece que na América Latina se vai além: escolhem-se como heróis justamente os homens que mais atrapalharam a política, mais arruinaram a economia, mais perseguiram os cidadãos. Por isso, não há como escapar: é ele, o falso herói latino-americano, o principal alvo deste livro.