A Cabanagem foi a maior insurreição armada da história brasileira. Com centro em Belém, transcorreu durante as décadas de 1820-30 no antigo Pará, que abarcava então quase toda a atual Amazônia. Sua presença na história oficial do país é, contudo, apagada. Muito desse descaso vem de que aquele foi um movimento revolucionário do povo trabalhador. Negros e índios, mas também brancos pobres e pequenos fazendeiros e comerciantes foram a sua principal força propulsora. Assumiram sua direção, chegaram a governar durante meses. Depois foram derrotados e massacrados, mas já haviam assegurado a permanência da região como território brasileiro, após a Independência. O primeiro ensaio deste livro oferece um perfil daquele grande movimento popular. Mostra a dinâmica que o levou ao auge, quando ele se transformou num episódio épico e de proporções enormes, para a época. Mostra as circunstâncias que o levaram à derrota, muitas delas relacionadas com o próprio caráter de classe avançado que ele assumira. E mostra as chacinas promovidas pelas forças mandadas pela Corte do Rio de Janeiro, de proporções ainda mais fantásticas na época, que ficaram marcadas como um dos grandes crimes do poder governante no país, desde séculos. O segundo ensaio, Guerrilha ou luta de massas, enfoca outro momento de conflito ocorrido no país, 140 anos após: a luta contra a ditadura militar, no período 1960-70. Publicado em 1967, discute a opção de luta armada que empolgava então numerosos contingentes de estudantes e intelectuais democratas. Reflete sobre os usos e empregos da guerrilha através da história, aponta a inoportunidade de sua adoção no Brasil, naquelas circunstâncias, considera o papel negativo que essa adoção exerceria sobre o movimento democrático de massas contra a ditadura. O autor publica os dois ensaios neste livro por achar que podem ser úteis para os jovens de hoje, aos quais incube questionar e achar os caminhos para a solução dos desafios que se põem hoje diante do país e do mundo. Reúne ambos os trabalhos sob o título Dois estudos para a mão esquerda a fim de marcar sua origem marxista, da qual não abre mão, embora reconhecendo que muita coisa mudou nesses 30 anos, exigindo correção de conceito e de mira. Mas, segundo ele, o cerne permanece, tanto dos instrumentos de análise, quanto das questões a analisar.