"A pianista é um romance construído a partir da força do choque. O esplendor estético da melhor música se bate com a progressiva tortura que as personagens instalam em si mesmas e umas contra as outras. A dor que esse tipo de relação destrutiva gera logo se une ao prazer estético para mostrar o lado obscuro da arte: obsessão, irracionalidade, cobrança e medo do fracasso. A própria linguagem é carregada de choque. Luminosa e cheia de viço, o que ela cria porém é um mundo repressivo e violento. O leitor percebe o paradoxo que acompanha a arte moderna: apesar da técnica apurada da autora, o resultado final é cheio de angústia e dúvida para tudo que diz respeito à condição humana. A professora de piano, assim, carrega no seu íntimo uma espécie de dor universal: a arte que ela ensina é capaz de atingir qualquer pessoa. Os Concertos de Brandenburgo, uma das preferências dela, por exemplo, ultrapassam as amarras culturais para atravessar povos e épocas. Como eles aparecem ao lado de um sofrimento também intrínseco, a dúvida que atravessa cada uma das páginas assusta: estaríamos condenados, mesmo no que temos de mais grandioso, à dor? O romance não irá responder à pergunta, mas mostrar seus vários lados. Se, de fato, uma das funções mais sofisticadas da arte for a de mergulhar nos cantos mais profundos do ser humano, todo o aplauso que a obra-prima de Elfriede Jelinek recebeu e continua recebendo é mais do que justificado. Como acredito que a arte deva iluminar a consciência, também bato palmas para A pianista."