O que fariam dez homens reunidos no coreto da praça da Matriz de Pouso do Sossego, numa noite chuvosa? Entre cochichos, risos abafados e pigarros, eles aguardam a meia-noite. Liderados pelo comerciante Osório, esses respeitáveis senhores de bem têm um dever a cumprir: manter a ordem e a honra do lugar onde vivem. Tendo como cenário uma pequena cidade interiorana, nomeada ironicamente Pouso do Sossego, o autor cria dois planos narrativos: o primeiro tem a duração de uma noite e é narrado em primeira pessoa por Osório, cujo olhar conduz o leitor por essa longa e trágica noite; no segundo plano, batizado de "Coro", um narrador em terceira pessoa retoma episódios do passado. Presente e passado dialogam ao longo do romance, num jogo de sombra e luz: as ações do presente são envolvidas pela noite, pela chuva, por sombras e vultos, ódios e rancores; os acontecimentos do passado desfilam coloridos, sobretudo pela chegada à cidade de ruidosa e alegre companhia circense. Nesse microcosmo povoado de personagens emblemáticas, Braff desnuda os subterrâneos do poder, calcado na hipocrisia e na intolerância. Diferente de seu último romance, Bolero de Ravel, também publicado pela Global, em que o ficcionista detém suas tintas na composição de um único e enigmático personagem central, em Tapete de Silêncio pode-se dizer que Pouso do Sossego (e suas mazelas) constitui a peça nuclear do romance. E a tradição, moeda de honra do lugar, deve ser mantida com a paz dos cemitérios.