No quadro atual da literatura brasileira, Luís Giffoni é um espécime raro. Um escritor que ultrapassa os marcos habituais de referência, tanto pelo conhecimento que domina como pela facilidade com que transita pelos diversos gêneros literários. Além de escritor, Luís Giffoni poderia ter sido cientista, crítico de arte, de literatura, de música, tal a sua capacidade de apreensão. O Fascínio do Nada é a mais clarividente prova disso. Nesta coletânea de pequenos ensaios/crônicas, com curiosidade, singular valentia crítica e lucidez intelectual, ele examina um caleidoscópio de temas e pontua questões que nos confrontam com a realidade do século 21, no Brasil e no mundo. Os modelos de educação vigentes, o papel da cultura do fácil na sociedade virtual que privilegia a banalidade, a superficialidade e o excesso de informação, minando a capacidade crítica, terreno fértil para a manipulação; os paradigmas, conceitos e costumes que ao longo do tempo se esfumam na vala dos modismos de época, destino previsível do desenfreado consumismo atual; a voracidade imperialista norte-americana que se realimenta a cada debacle para seguir brandindo seu autoproclamado "Destino Manifesto"; as descobertas científicas que expandiram as fronteiras do Universo e nos reduziram a nada em termos cosmológicos, golpe fatal nas nossas pretensões antropocêntricas. Num diálogo permanente com o leitor e num estilo muito pessoal, vivo e sagaz, ao mesmo tempo em que analisa as perplexidades do novo milênio, Luís Giffoni enriquece nosso saber humanístico em ensaios críticos sobre pintura e literatura. Um quadro de Dominique Ingres, além do prazer estético, pode ser uma lição de arte, de mundo e de comportamento; os Ensaios de Michel de Montaigne nos dão a exata dimensão de nossa miopia e pequenez diante da diversidade; o biólogo inglês Richard Dawkins, propagador do ceticismo religioso, em seu aclamado e vilipendiado livro Deus, um Delírio, demonstra a atualidade das teorias de Darwin, objeto de outro ensaio; Viagem à Itália, de Goethe, é um exemplo de mente aberta, de vasta curiosidade e erudição, de um explorador de geografias e ideias do mesmo naipe que seu compatriota Thomas Mann, autor do monumental A Montanha Mágica, também analisado. Nos ensaios de Luís Giffoni vislumbram-se outras maneiras de refletir sobre nosso tempo e tomamos consciência de que precisamos recuperar nossa capacidade de crítica e questionamento. Porque, como bem disse José Bergamin, "se há má-fé, por que não existirá uma boa dúvida?"