Fator X foi concebido como testemunho crítico de um tempo, sem saber que vivia o ocaso deste mesmo tempo. Escrito basicamente durante os governos petistas, quando mais vivamente floresceu nossa experiência democrática, mas publicado no início de um governo pós-democrático, este livro, sem que o previsse, trata da derrota de Francis Fukuyama. Em todo caso, uma poesia que se quer ativista. E, claro, que se diz poesia. Que olha com amor os experimentalismos formais, porque reconhece o estado de arte que há neles, mas que refuta o formalismo, pois o entende como expressão pueril do velho desvio da arte pela arte. (Se a função poética caracteriza a especificidade da arte da palavra, o vanguardismo extrai a conclusão equivocada de que a poesia deve ser apreciada e avaliada à luz quase exclusivamente da função poética. Na verdade, toda a linguagem e todas as suas funções falam quando fala a poesia). Igualmente: embora amante da arte popular, a poesia deste livro não se vê como proletkultista, porque não evita, mas por vezes busca para reconfigurá-las as formas tradicionais da arte burguesa e aristocrática. (Se estas formas constituem o produto de classes sociais ociosas, nada mais justo que sejam democraticamente postas a serviço de um setor social mais amplo). Crítica e crônica do nosso tempo, aberto à arte popular e às experiências de vanguarda, com base na reelaboração política da arte erudita Fator X persegue um ideal realista e militante.