Hitler cometeu dois erros de estratégia que mudaram o rumo da Segunda Grande Guerra. O primeiro foi subestimar o senso patriótico dos britânicos, ao acreditar numa Inglaterra aliada aos interesses do Terceiro Reich — o que atrasou seus ataques maciços à ilha. O segundo, muito mais grave, lhe custou a vitória: a Operação Barbarossa. Uma série de intrincadas ações militares que supostamente levaria os nazistas aos portões de Moscou e à conquista da Rússia. Em Stalingrado — que rapidamente alcançou o topo das listas de mais vendidos em todos os países em que foi publicado e recebeu o prêmio Samuel Johnson de Não-Ficção de 1998 —, o historiador Antony Beevor trata da batalha de mesmo nome, onde a máquina de guerra nazista teve sua primeira derrota diante do exército soviético, que resistiu bravamente numa cidade em ruínas. Em agosto de 1942, o exército alemão chegou a Stalingrado e levantou um cerco que duraria pouco mais de um ano. Batizada em homenagem ao ditador e então líder soviético Stalin, a cidade, às margens do rio Volga era, ao mesmo tempo, um alvo moral e estratégico. Seria um duro golpe no orgulho russo ver a cidade com o nome de seu dirigente cair. Mais grave: Stalingrado era a porta para vários poços de petróleo ambicionados por Hitler. Stalingrado mostra como o temido contingente alemão estava completamente despreparado para o tipo de combate que se seguiu. Acostumado com ataques-relâmpago — que lhe rendeu o controle sobre a Polônia e a França —, Hitler não preparou seus homens para uma guerra corpo a corpo que pudesse levar meses. O rigoroso inverno das estepes russas chegou inclemente, emperrando fuzis, congelando soldados até a morte, dilapidando provisões e tornando metade do equipamento inútil. Beevor se preocupa em mostrar os dois lados da batalha, justapondo e contrapondo pensamentos e estratégias tanto de soldados e oficiais alemães quanto de soviéticos. Stalingrado revela como o exército vermelho também carecia de treinamento e logística, o que torna sua resistência ainda mais impressionante. Durante os meses seguintes ao cerco, os oficiais russos espionavam tanto o exército inimigo quanto o seu próprio: vários jovens perderam a vida ao tentar desertar ou passar para as linhas inimigas. Antony Beevor entrevistou vários sobreviventes da Batalha de Stalingrado e descobriu novos e importantes documentos nos arquivos alemães e soviéticos, abertos após a queda do muro de Berlim — incluindo relatórios de interrogatórios, deserções e execuções de prisioneiros. Além de ordens soviéticas para que diversas cidades fossem destruídas a fim de dificultar ao máximo a vida do exército invasor. Um trabalho que prende o leitor em meio a lutas travadas em condições inumanas, ao lado de civis entrincheirados em um campo de batalha urbano.