Os recentes acontecimentos no Brasil e no mundo demonstram que é impossível pensarmos em um governante que seja consensualmente considerado como bom para todos os grupos que compõem as modernas democracias. No mundo antigo, como em Roma, apesar de todas as diferenças para com os dias de hoje, o cenário é o mesmo: é muito difícil termos um consenso universal sobre os Imperadores, mesmo quando um deles foi Augusto. No caso deste último, as inúmeras propagandas políticas, como aquelas pensadas por Agripa, além daquelas em forma de textos fundadores de identidades, como a Eneida de Virgílio, são a justificativa para tal afirmação. Sendo assim, este livro se debruça na vida de uma dos mais polêmicos Imperadores do passado Romano, o princepe Nero, no intuito de responder a pergunta que intitula nossa pesquisa. Neste processo, o livro contemplará quatro capítulos distintos que irão debater, respectivamente, a vida, as fontes e a historiografia sobre Nero; a vida, a recepção e os estudos modernos sobre Tácito, seguidos de uma reflexão sobre o que significava fazer historia na Antiguidade; após essas reflexões, o livro também se propõe a um estudo sobre o Principado romano, sua organização social e política, através de dois conceitos elaborados para esta pesquisa, o da ordem e o da (des)ordem Imperiais; ao final, o leitor encontrará, no último capítulo, uma reflexão sobre como os temas da Retórica, da Oratória e da História podem ser entendidos dentro da proposta maior que irá remeter à noção de que os conflitos internos ao Principado, inclusive contra maus Imperadores, podem ter uma função muito maior do que a de descrever ou apresentar qualidades individuais.