A questão da preservação do meio ambiente, em um percurso que remonta aos movimentos contestatórios que animaram a Europa e os Estados Unidos nos anos 1960 e inícios dos 1970, vem se constituindo em nova e relevante questão pública. Apropriado de diversas maneiras por movimentos, organizações não-governamentais (ONGs), governos, partidos, organismos centrais do capitalismo, como o Banco Mundial, e multinacionais, o discurso ambiental se converte em fonte de legitimidade e de disputa de conflitos. A Agenda 21, documento assinado por 170 governos na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, foi um marco desse processo, em que termos como governança, sustentabilidade, participação e comunidade ganham circulação midiática global e ameaçam instaurar uma nova doxa. Lugares comuns, aceitos como verdades incontestes, são repetidos a exacerbação, em detrimento de uma avaliação rigorosa das suas implicações. Resultado da colaboração do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ (IPPUR/UFRJ) e da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), através do Projeto "Brasil Sustentável e Democrático", o livro reúne três artigos que desmontam idéias preconcebias sobre o assunto e apontam os perigos de ativistas, intelectuais e agentes da sociedade civil aceitarem os termos em que o debate socioambiental tem sido posto e os sentidos e usos que se fazem deles. No limite, poderiam estar, a despeito de suas sinceras intenções, contribuindo para legitimar o lugar subalterno a que, na moderna sociedade de mercado, os grupos com os quais se identificam estariam sendo relegados.