A literatura universal está repleta de figuras que encarnam a aventura em todas as suas formas. Na literatura antiga, a Odisséia e o Gênesis são talvez os dois livros que mais inspiraram os artistas e os santos de nossa história. Ulisses e Abraão são viajantes que caminham dia após dia em companhia do desconhecido e do imprevisto. O defi nitivo está no fi m do caminho e ninguém sabe exatamente do que ele é feito. A única certeza verdadeira é que a viagem deve continuar a qualquer preço e às vezes com muita coragem. Estas páginas são consagradas a Abraão, o personagem bíblico muitas vezes chamado o "pai de todos aqueles que crêem" (Rm 4,11). O primeiro capítulo descreve os traços mais salientes do Abraão bíblico, o ancião que, no entardecer de sua vida, se lança em uma aventura cujo desfecho não pode conhecer - o que outros fazem na aurora da juventude. O segundo retrata o patriarca na tradição judaica, a primeira a reinterpretar Abraão para enfrentar os desafios provenientes das vicissitudes da história. O terceiro trata do Novo Testamento, do papel que Abraão desempenha na definição do novo "caminho" aberto para o anúncio do evangelho, num mundo em que judeus e pagãos caminham lado a lado. O quarto é consagrado ao islã, a religião que concede talvez mais importância a Abraão, uma vez que se define essencialmente como "religião de Abraão" (millatIbra-hi-m). No momento em que o diálogo ecumênico se torna mais difícil e em que o diálogo inter-religioso se transformou em um verdadeiro desafio, será útil caminhar durante algum tempo ao lado de um personagem invocado pelas três grandes religiões monoteístas deste mundo: o judaísmo, o islã e o cristianismo. Voltemos ao carvalho de Mambré, onde Abraão recebe os seus hóspedes. Os que crêem no Deus único terão tudo a ganhar com a hospitalidade repleta de fé que animava "seu" patriarca.