O mito grego da Medeia foi reinterpretado inúmeras vezes, desde Eurípides a Calderón de la Barca e Lope de Veja, apenas para citar alguns. Em Portugal, António José da Silva, o Judeu, criou sua versão do mito trágico, subvertendo-o: seu Os Encantos de Medeiaé uma opereta cômica, analisada neste livro por Kênia Pereira, responsável pelas notas que acompanham a edição. Segundo a pesquisadora, Antônio José da Silva foi um dos poucos dramaturgos do mundo a apresentar uma Medeia lúdica e cômica. Em plena era de caça às bruxas, em um Portugal conservador e fanático, em que as mulheres eram sacrificadas por qualquer atitude de irreverência, o Judeu criou uma Medeia risível, com direito às tiradas espirituosas, uma Medeia sem filhos e que tem um final feliz, sem conhecer a punição masculina.