Dizem as más línguas (aquelas línguas boateiras, alcoviteiras e que só têm o mérito de atiçar anarqueologias intrépidas) que Heráclito não morreu de hidropisia, mas que sobreviveu por milênios. Sempre reescrevendo seu livro sobre a política de todas as coisas, a que se chamou uma vez "Perì physeos" e depois "Sobre a natureza", após milênios de traduções feitas por más línguas e línguas ainda piores. Heráclito gostava dos ambientes de menor credibilidade. Até por isso escuta-se às vezes que ele foi visto alhures recentemente, transfigurado em gênero e número. Este livro é produto de um esforço anarqueológico para trazer à luz novos fragmentos - formando ainda as obras incompletas do Obscuro. Além dos fragmentos, ele reúne textos apócrifos e doxografias de autores em sua maioria brasileiros que se esforçaram para refletir sobre o legado recém-descoberto de Heráclito. Os organizadores, cientes de toda limitação, mesmo dos mais rigorosos métodos anarqueológicos, levaram a cabo um exercício de articulação do pensamento do Obscuro. Este é um pensamento que surge da avalanche dos regimes de verdade para focar, ainda que de soslaio e no meio desta an-arché, o logos - aquele que demanda que sejamos like rolling stones.