Noturno apresenta 144 poemas, no estilo dos tankas japoneses (poemas breves, com 31 sílabas poéticas, em cinco linhas). Uma homenagem à saga do poeta Ryu Mizuno, que conduziu mais de 780 emigrantes japoneses pela travessia Japão-Brasil, em junho de 1908. O tanka é a matriz do verso japonês, a forma mais cultivada de poesia japonesa e a mais antiga em prática. Esse estilo é o antepassado do popular haicai, formado de versos que tratam geralmente da natureza. Os temas mais comuns dos tankas são os sentimentos expressados pelos emigrantes, como a saudade da terra natal, solidão e o medo. Cultivador de haicais e de tankas, Cloves Marques se afeiçoou aos padrões da poesia oriental: não só aos seus modelos formais, nos quais ocorre uma fórmula permanente (e também um permanente desafio à criatividade), mas o seu sentido de insistência. Discreta insistência do fraseado curto e do dizer cheio de imagens. Nessas estranhas estrofes, o poeta atravessa problemas formais de várias espécies, incluindo o coloquial e o misterioso. Nas estrofes, que parecem mudar de aspecto, aparecem as mais diversas faces da vida, e aparecem as estratégias verbais do poeta. Há um aparente recuo do sentimento, que passa a ser espectador de si mesmo: o poeta constrói temas e fixa momentos, que vão do trivial ao filosófico. O livro Noturno apresenta prefácio de Vital Corrêa de Araújo, texto da orelha escrito por Nelson Saldanha, membro da Academia Pernambucana de Letras, e ilustrações de Álcio Lins.