Se não tivesse nascido negro e pobre, Frank Lucas poderia ter sido um político corrupto e rico. Como esse Sonho Americano não estava disponível, ele se tornou um rico narcotraficante. Uma história de sucesso, do outro lado da lei. Mas Lucas não é o mafioso dos filmes de Coppola e Scorsese. Sua ascensão e reinado foram tão improváveis que até a polícia demorou a reconhecer que esse homem elegante, carismático e implacável não só era o dono do Harlem, como também o mentor de um plano ousado para contrabandear a heroína do Sudeste Asiático em caixões de soldados norte-americanos mortos no Vietnã. A história de Frank Lucas agora será eternizada com a megaprodução O gângster, de Ridley Scott, estrelada por Denzel Washington e Russell Crowe. Ao lado de Al Capone e Vitto Corleone, Frank Lucas será conhecido no mundo todo. Em 2000, contudo, ele era apenas um suvenir de uma Nova York suja e violenta, a Cidade do Medo da era pré-Giuliani, antes da "revitalização" dos bairros menos nobres. Foi o artigo de Mark Jacobson na revista New York que introduziu o velho manda-chuva do tráfico no universo contemporâneo das celebridades instantâneas e inspirou o filme. Essa crônica-reportagem abre esta coletânea, mas o espectro de Lucas - a Sombração do Harlem - escapa pelas margens das páginas, inunda a cidade e os artigos selecionados dentre os 12 milhões de histórias que Nova York tem a contar. Lucas está em toda parte. Paira sobre as pessoas que se acomodavam no sofá mais confortável da cidade para fumar um bom charuto dominicano, os viciados que vendiam até xarope para tosse nas esquinas, a empresa de táxi que empregava artistas e escritores no turno da noite, as ruínas do World Trade Center e as teorias conspiratórias.